Moradia
Uma obra simples, mas um tanto de dignidade
Até 2010, em Pelotas, pelo menos 2,4 mil famílias viviam sem acesso a um banheiro em casa, aponta o Ministério das Cidades
Jô Folha -
O estudante Kevin Furtado, de oito anos, esbanja alegria. Sorri, brinca e antecipa-se às respostas da mãe Aline, a cada nova pergunta. A faceirice se justifica. A casa simples na zona da Balsa contará com banheiro em condições dignas. "E eu vou ser o primeiro a usar. Vou tirar uma foto no espelho", planeja o caçula. É um sonho que deve cruzar outras milhares de mentes - infantis ou não - em Pelotas. Dados do Ministério das Cidades sobre o déficit habitacional no Brasil apontam: pelo menos 2.454 domicílios não possuíam banheiro em Pelotas, em 2010.
Quando o Diário Popular visitou a residência de Kevin, vaso sanitário e pia não estavam sequer colocadas. Nem a cor das cerâmicas estava definida. Havia apenas paredes erguidas e instalações hidráulicas prontas. O suficiente para a família imaginar como seria voltar a tomar banho quentinho, em ambiente com porta, protegida dos mosquitos e sem infiltrações. Sem falar em um sistema de esgoto em funcionamento.
"Por enquanto ainda tá dando pra improvisar, mas em seguida vem o inverno e aí complica", resume Aline, 37, que, desempregada, passou a atuar como catadora de recicláveis e diarista para sustentar os três filhos. Em 2016, um curto-circuito provocou incêndio e parte da estrutura, de madeira, foi engolida pelo fogo. A outra parte precisou ser desmanchada, já que o telhado cedia. Agora, é de uma corrente de solidariedade que a reforma sai do papel.
Forças daqui e de Minas Gerais
As irmãs Rosane Motta Guedes, 57, e Patrícia Motta, 44, já não vivem no mesmo endereço na rua Tiradentes há mais de duas décadas. Não moram sequer em Pelotas. Mas é direto de Belo Horizonte, em Minas Gerais, que as duas passaram a engrossar o apoio para reforma na casa da ex-vizinha. "Ajudar não é, necessariamente, dar um dinheiro para as pessoas. Tem que ter uma finalidade", ressalta a engenheira civil Rosane, ao conversar com o DP por telefone.
Sim. E a finalidade estava bem definida. Aqui, em Pelotas, Aline Furtado contaria com projeto e orientação técnica do arquiteto Cassius Baumgarten, que já se envolveu em outros projetos de habitação popular nos últimos anos, como a Casa Pallet erguida para moradia de sete meninas órfãs, em junho de 2015. Aliás, foi quando ele e Aline se conheceram.
"Quase 80% da população brasileira acaba apelando à autoconstrução e a pratica sem assistência", ressalta o arquiteto. E na prática, não raro, as residências ficam com problemas básicos, como o mau aproveitamento da luz. Detalhes que, agora, buscarão corrigir.
Cartão Reforma é uma das alternativas
A Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária aguarda a publicação do terceiro edital do Cartão Reforma para encaminhar nova proposta ao Ministério das Cidades. A intenção é de que, desta vez, os candidatos possam ser do Navegantes - adianta o secretário Ubirajara Leal.
As 617 famílias já selecionadas, moradoras do loteamento Dunas, ainda aguardam a liberação dos cartões para poder tornar seus sonhos realidade. A expectativa é de que, tão logo, estejam com os magnéticos em mãos, a prefeitura coloque em prática a parceria com o Instituto Federal Sul-rio-grandense (IF-Sul), que assumirá a assessoria técnica aos contemplados. As orientações vão desde a indicação dos tipos de material e quantidades que devem ser adquiridas ao acompanhamento das obras, realizadas pela própria comunidade.
O programa Cartão Reforma transforma-se em alternativa para melhorias básicas, como construção de banheiros, troca de telhados e manutenção em redes elétrica e hidráulica. Os valores médios dos repasses é de R$ 5 mil, mas pode chegar a R$ 9 mil. No total, no Dunas, R$ 3,1 milhões serão investidos pelo governo federal.
Doe Materiais! -
Os interessados em fazer doações ao Banco de Materiais da Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária podem fazer contato pelos telefones (53) 3225-0182 e 3225-0183. Uma equipe se encarregará de recolher a doação.
Confira os dados do Ministério das Cidades (*) -
* Domicílios com ausência de banheiro
- No Brasil: 1.005.909
- No Rio Grande do Sul: 26.159
- Na capital gaúcha: 3.353
- Em Pelotas: 2.454
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário